sexta-feira, 4 de julho de 2008

Atrás das grades

Sei bem o quanto esse papo de segurança pública é batido e até chato, mas preciso falar das grades dos prédios e do quanto elas me oprimem. Não lembro bem quando foi que isso começou, mas deve ter sido no início dos anos 90: eu estava morando fora do Rio e vim passar férias aqui, de repente percebi que os prédios da rua Prudente de Moraes estavam todos gradeados, com raras exceções. “Que tristeza”, pensei, “agora somos nós que vivemos atrás das grades”. Nunca morei na Prudente de Moraes, mas foi lá que tive o baque. Aliás, tenho a sorte de ter sempre morado em prédios que não aderiram à moda das grades. Sorte é forma de falar, porque houve uma antiga síndica que quis gradear o prédio onde moro, mas não conseguiu maioria na votação, amém.

Não estou nem falando daquelas grades de ferro antiguinhas, que têm um acabamento em arabescos ou setinhas, falo daquelas horrendas de alumínio, ou sei lá que material é aquele, são tubulares e grosseiras, horrendas é bem o termo. Agora mesmo, perto aqui de casa, tem um prédio trocando a grade antiguinha por uma dessas “mudernas”, um horror. O que me intriga é: será que as pessoas se sentem mais seguras assim? Devem achar que sim, de outro modo a empresa que fabrica essa grade já teria falido há tempo. Quem serão os “gênios” que ganham grana fabricando essa porcaria? Porque, na real, se os bandidos quiserem entrar, acho que entram com grade de alumínio acobreada e tudo.

É uma baita inversão de valores viver atrás de grades, como bichos acuados e tristes, enquanto a violência e a impunidade andam soltas por aí. Moramos numa cidade linda e sitiada. Devagar, sem percebermos, vamos nos conformando, nos limitando cada vez mais... não ando na Lagoa de bicicleta à noite sozinha, isso também me entristece, mas seria “conduta de risco”. Outro dia li no jornal que uma moça foi dar queixa por ter sido assaltada na Lagoa e o delegado, ou alguém da delegacia, passou um sermão nela, tipo, “o que a senhora queria? Andando ali naquela hora?” Vamos assim vivendo atrás das grades, dos vidros escuros e dos blindados. Não gosto nem de pensar onde isso vai parar, mas penso na música do mestre Cole Porter, Don´t Fence Me In, e peço para não nos iludirmos com a falsa sensação de segurança que uma grade pode trazer, peço para estarmos cercados de menos conformidade.

foto: Rodrigo Romano

4 comentários:

Walmor Pamplona disse...

As crianças criadas atrás das grades, ao que parece, viram bichos tb, brigam em boates da moda etc... Bjs

Anônimo disse...

Vc não sabe como é desagradável sair da sua casa e ver pessoas
dormindo na nossa porta.
Em Copacabana, a maioria delas são
colocadas para não permitirem que
os moradores de rua façam da sua
porta, suas camas.

Adriana Pinheiro disse...

os filhos dos condomínios, revoltados hooligans, skin heads e os moradores de rua, os filhos do descaso. Deveríamos colocar esss jovens entediados que queimam índio e batem em prostituta para servirem comida, banharem e doarem suas roupas de grife aos mendigos. Uma lição de humildade, solução equacionada.

Anônimo disse...

Este texto sobre o Sol no mapa é muito esclarecedor. Ajuda a entender algumas coisas do mmeu mapa que tinham ficado soltas no espaço.
Continue, faz muito bem para mim.
Sonia