segunda-feira, 4 de março de 2013

Da morte e das vontades da vida

Nunca visito meus mortos no cemitério, porque acho simplesmente que eles não estão lá. Converso com eles em casa mesmo, as vezes andando na rua, vão no meu pensamento e no meu coração, afinal, é lá que de fato estão. Mas quando a minha irmã morreu, achei por bem plantarmos uma árvore pra ela no jardim da casa do meu pai, assim ela ficaria simbolizada como referência viva, até para que as filhas a pudessem visitar... Dei a ideia e meu pai achou bom, assim compramos um jasmim, cisma da minha cabeça - já imaginei o perfume sendo levado pela brisa da noite...

Sem nenhuma pompa mas com toda a circunstância, o jasminzinho foi plantado no dia do aniversário dela. Nos reunimos com essa finalidade, entre lágrimas, muitos risos e até um tombo! Meu pai e as meninas fizeram o plantio e a rega. Porém a vida - assim como a morte e a própria Janaina -  é de personalidade forte e tem lá seus caprichos: muito para o meu espanto, o jasmim morreu...

Mas aconteceu que tempos depois, meu pai recebeu, não sabe nem dizer de onde, uma muda de mamoeiro que foi plantada sem intenção de qualquer simbolismo, a poucos metros de onde havia sido plantado o jasmim: vicejou! O pézinho virou árvore, deu flor, e, esse ano, começou a dar muitos frutos lindos e deliciosos. Mamão bahia, Janaina Mamede. 

Veja você, minha irmã, mãe zelosa, não quis ser flor perfumosa, e sim alimento, fruta apetitosa. Café da manhã, fartura e gosto. E uma baita saudade.


botanical illustration 18th century


sábado, 2 de março de 2013

De outro mundo ou no mundo dos outros

Deus me livre de quem faz festa de criança com animador urrando no microfone!
Há em mim uma moradora muito antiga que anseia por passeios de charrete,
caminhos de terra batida e cheiro de seiva...
Gosta de sossego e de balanço, manso.
Bolo de fubá, café e simplicidade.
Nunca mais vi as joaninhas tão presentes na infância...
Será que estão em extinção?