sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O filme... o tempo...

O texto a seguir foi escrito pela amiga Renata Salles, após assistir ao filme O Curioso Caso de Benjamin Button. É lindo e sensível, como o filme:

Ontem fomos assistir Benjamin Button ... estou até agora sob o efeito deste impecável filme de David Fincher (uma adaptação do conto de Scott Fitzgerald). Não percebi que haviam se passado quase três horas quando as luzes se acenderam. As lágrimas escorriam como se tivessem vida própria. Uma fábula que nos transporta para nossos labirintos e encruzilhadas. Para os amores, as perdas, a beleza, o vigor, a decadência e a memória.
E o protagonista ... o tempo. Vence todas as trapaças.

Pensamento que não sai da minha cabeça... para quem almeja parecer cada vez mais jovem (e essa é uma síndrome dos nossos tempos), a vida de Benjamin Button pode dar a impressão de ser fascinante. Mas ele acaba igual a tantos idosos, que esquecem o passado, não pensam mais no futuro e quase perdem a noção do presente.

Muitos comentaram comigo que o filme retrata a impossibilidade da paixão eterna. Tive a impressão oposta. A maior beleza do roteiro, e talvez sua maior fantasia, é exatamente acreditar na paixão eterna - no Amor. A que desafia desencontros e expectativas, transcende diferenças de idade, burla todos os códigos e ignora ressentimentos ou abandonos. O amor verdadeiro existe para sempre, não necessariamente sob o mesmo teto e de acordo com as convenções.

O roteiro é universal, o tempo é psicológico e embaralha nossas convicções com humor e crueldade. Cada um de nós reagirá de um jeito. Dependerá da idade, da experiência e do que se espera da aventura da vida.

Algumas frases do filme estão martelando minha alma:
“Somos predestinados a perder as pessoas que amamos. De que outra maneira saberíamos como são importantes para nós?”
“Nunca se sabe o que nos espera.”
“Nossas vidas são definidas pelas oportunidades, mesmo aquelas que perdemos.”
“Espero que você leve uma vida da qual se orgulhe. Ou que tenha força para começar tudo de novo.”
"Tudo é passageiro e do fim não se escapa".
“Tudo que começa acaba”.

Porque temos tanto medo do fim? Se a Vida é uma sequências de estórias que têm começo, meio e fim!
Viva cada dia, Viva sua Vida.
é isto ... bjos para todos,
Re




sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Simpatia é quase amor

Não me refiro ao simpático bloco que assola as ruas de Ipanema nos dias de Momo, mas de fato à simpatia que pessoas dispõem no trato umas com as outras. Li recentemente uma tese de um estudante de psicologia da USP que se disfarçou de gari por 20 dias para provar que existe algo tenebroso chamado de "invisibilidade social". Ao ser gari, ele não era sequer cumprimentado pelos trocentos estudantes que cruzavam com ele diariamente no campus.

A tese do rapaz me fez pensar no zelador, no vigia, no motorista de ônibus, no ascensorista, enfim, naqueles que nos prestam serviços básicos no dia a dia e que, óbvio, merecem um bom dia/boa tarde/boa noite, e os mágicos "por favor" e "muito obrigado". É uma questão de cortesia, simpatia e educação.

A tal "invisibilidade social" é consequência direta da arrogância e da falta de simpatia. Tem coisa mais insuportável do que gente antipática? Pode reparar, quem é bonito e simpático fica ainda mais bonito, quem é feio e simpático fica, no mínimo, interessante, porque beleza é algo que se tem na vitalidade do olhar. O antipático é o feio mais feio que existe, porque tem feiúra na alma. Vou adaptar a frase do poeta Vinícius de Moraes para enriquecer essa postagem: que me perdoem os feios, mas simpatia é fundamental.



foto: Celso Pereira http://www.celsopereira.com.br/

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quem será "a favorita" de João Emanuel?

Quem é brasileiro sabe que a novela das oito não é apenas um folhetim para simples entretenimento: é um verdadeiro veículo de influência comportamental, talvez o mais influente de todos. Daí a importância da sensibilidade do autor quando resolve abordar temas como infidelidade, preconceito, corrupção, violência doméstica e drogas. Se ele vai tocar nesses assuntos, que o faça de forma honesta e inteligente, ciente de que sua abordagem influenciará cabeças e comportamentos do Oiapoque ao Chuí.

Não vou sair explanando um por um desses assuntos, só quero falar de uma coisa: que horror total aconteceu com a mulher que traiu o marido com o melhor amigo dele na novela?

Primeiro, ela ficou indigente, dormindo pelas ruas da cidade, sem rumo e sem acolhimento. Nenhuma boa alma lhe estendeu a mão. O autor tinha ali uma oportunidade incrível de mostrar que as pessoas podem, num ato de solidariedade, salvar a vida do outro. Mas não. A adúltera virou uma espécia de mendiga surtada da cidade cenográfica. Depois de quase ser violentada, contraiu uma doença gravíssima. Nessa hora, o marido, apiedado, a acolheu. Então ela morre, numa cena ridícula, pedindo perdão ao marido e ao amante, implorando que os dois voltem a ser amigos, pois tudo o que aconteceu havia sido culpa dela, só dela.

Gente, João Emanuel Carneiro perdeu a noção! Aos que dizem que ele é o autor revelação do momento, digo o seguinte: autor revelação prêmio misoginia 2009! Vai detestar mulher assim lá no inferno!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Somos todos anjos



foto: Cristiano Sá Mota

Inevitavelmente, vez por outra na vida, nos deparamos com acontecimentos inesperados, alguns deliciosos, outros que mais parecem um pesadelo de olhos abertos. Com esses, o coração recebe uma solapada e os pensamentos ficam em desalinho, tudo parece confuso e totalmente fora de ordem... Momentos difíceis, de angústia e deslocamento. Podemos até estar diante de uma linda paisagem, mas sua beleza fica temporariamente desgastada pela falta de brilho no olhar.

Nessas horas, talvez seja melhor primeiro ficar quieto e respirar. Simplesmente respirar. Uma maravilhosa mestra, terapeuta e amiga, chamada Sonia Mendes, me ensinou esse conceito de "respirar no desconforto". É uma mágica. Aos poucos, a respiração areja cada célula e devagar, os pensamentos parecem não ser mais tão turvos, nem a paisagem externa tão irrelevante. O desalinho vai dando lugar ao centro.

Depois, se a angústia persistir, é preciso "acionar a rede" (outro conceito precioso que aprendi com Sonia). Acionar a rede é simples: ligue para quem você gosta, diga o que está acontecendo, peça ajuda, ouça o que o amigo tem a dizer. A rede é o que não deixa o trapezista se estatelar no chão. Ela nos ampara na hora da queda e é uma sensação muito boa. Cada amigo pode ajudar de alguma forma, um pode te oferecer uma aula de ioga, outro pode segurar a sua mão e perguntar como pode ajudar (e só isso já é a ajuda), outro te dá um abraço, outro ainda pode aparecer numa esquina na hora exata em que você estava ali e, com um sorriso sincero, te convidar para um café. A rede é um verdadeiro jardim. Nessas horas, somos todos anjos.