terça-feira, 24 de março de 2009

Sobre orkut, facebook e outros bichos

Nessa onda internética, há vários sites e redes de relacionamento ao nosso dispor. Não tenho orkut, na verdade, implico com o orkut, pois toda vez que ouço falar dele no consultório é um tal de "fulano entrou na minha página pra ver se cicrano tinha deixado algum recado e aí encontrou a mensagem de beltraninho e deu o maior problema" ou ainda "fui na página da ex mulher dele e vi que ele tinha mandado flores pra ela, aí, terminei com ele". Em suma, o orkut me parece um meio de devassar e bisbilhotar a vida alheia... tanto que adorei (e acreditei) quando vi um cara na rua vestindo uma camiseta com os seguintes dizeres: "orkut ruined my life" (o orkut arruinou a minha vida) rsrs. Em contrapartida, conheço gente que usa o orkut para contatos de trabalho e nunca teve o menor problema. Como disse, sabiamente, um amigo: "o problema não é o orkut, mas o uso que as pessoas fazem dele". Ok, concordo, mas continuo não tendo uma página lá.

Até que ontem, uma amiga me convenceu a ter uma página no facebook. O troço tem uma ferramenta que cruza seus contatos de email e descobri que lá estavam vários queridos meus. Não sei bem ainda pra que serve o facebook... mas ninguém pode acessar um perfil sem a aprovação do dono da página e só de ter encontrado alguns amigos queridos, já valeu. Agora, o que eu quero mesmo comentar aqui é o seguinte: na página do perfil tem lá uma caixa chamada "status de relacionamento" onde as opções são (vou escrever do jeitinho que tá lá e comentar nos parênteses):
- solteiro (ok)
- em um relacionamento sério (gente, ninguém fala isso! como assim? não parece que o relacionamento é meio um tédio? ou sou eu que sou implicante?)
- em um noivado (sem comentários...)
- cônjuge (credo!)
- em um relacionamento enrolado (hã?!? será que alguém marca essa opção?)
- amizade-colorida (com hífen. achava que o termo já tinha caducado e sido atualizado para "ficante"...)

Fiquei estupefata! Quem escreveu isso? Ou melhor, quem traduziu isso? O que há de errado com solteiro, namorando, casado, separado, viúvo e pegando? Lembrei do Sílvio Santos que, trinta anos atrás, perguntava pros calouros se eram solteiros, casados ou tico-tico-no-fubá, muito mais moderno que o facebook!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Homenagem à Tina



Homenagem de Clarice Nicioli à Tina Pereira, fundadora e maestrina da Orquestra de Sopros da Pro Arte. Uma lindeza. Valeu Clarice!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Entre mães e filhas

Mãe: Alô?
Filha: Mãe? Posso deixar os meninos contigo hoje à noite?
Mãe: Vai sair?
Filha: Vou.
Mãe: Com quem?
Filha: Com um amigo.
Mãe: Não entendo porque você se separou do teu marido, um homem tão bom...
Filha: Mãe! Eu não me separei dele! ELE que se separou de mim!
Mãe: É... você me perde o marido e agora fica saindo por aí com qualquer um...
Filha: Eu não saio por aí com qualquer um. Posso deixar os meninos?
Mãe: Eu nunca deixei vocês com a minha mãe, para sair com um homem que não fosse teu pai! Filha: Eu sei, mãe. Tem muita coisa que você fez que eu não faço!
Mãe: O que você tá querendo dizer?
Filha: Nada! Só quero saber se posso deixar os meninos.
Mãe: Vai passar a noite com o outro? E se teu marido ficar sabendo?
Filha: Meu EX-marido!! Não acho que vai ligar muito, não deve ter dormido uma noite sozinho desde a separação!
Mãe: Então você vai dormir com o vagabundo!
Filha: Não é um vagabundo!!!
Mãe: Um homem que fica saindo com uma divorciada com filhos só pode ser um vagabundo, um aproveitador!
Filha: Não vou discutir, mãe. Deixo os meninos ou não?
Mãe: Coitados... com uma mãe assim...
Filha: Assim como?
Mãe: Irresponsável! Inconseqüente! Por isso teu marido te deixou!
Filha: CHEGA!!!
Mãe: Ainda por cima grita comigo! Aposto que com o vagabundo que tá saindo contigo você não grita.
Filha: Agora tá preocupada com o vagabundo?
Mãe: Eu não disse que era vagabundo!? Percebi de cara!
Filha: Tchau!!
Mãe: Espera, não desliga! A que horas vai trazer os meninos?
Filha: Não vou. Não vou levar os meninos,> também agora não vou mais sair!
Mãe: Não vai sair? Vai ficar em casa? E você acha o que, que o príncipe encantado vai bater na tua porta? Uma mulher na tua idade, com dois filhos, pensa que é fácil encontrar marido? Se deixar passar mais dois anos, aí sim que vai ficar sozinha a vida toda! Depois não vai dizer que não avisei! Eu acho um absurdo, na tua idade você ainda precisar que EU te empurre para sair!

O diálogo acima é fictício e desconheço o autor, recebi de uma amiga por email e não pude deixar de reparar o quanto essa filha não tem saída: se sai com um novo homem, é uma aventureira desnaturada, se não sai, é uma encalhada amargurada.

Há muito que as mulheres se tratam com esse menosprezo, a si mesmas e umas às outras. Para serem merecedoras de um mínimo de respeito e admiração, precisam preencher quesitos considerados "básicos". Não é novidade para nenhuma de nós ter nossa existência validada por outras mulheres apenas se tivermos um marido (se mantivermos a relação), se tivermos filhos, se, se, se... A baixa estima é uma praga que atravessa gerações, envenenando totalmente nossa auto-avaliação e, consequentemente, nossas escolhas.

Não tenho uma varinha de condão que resolva o problema de forma imediata e eficaz. Mas sei que algo precisa ser trazido à luz da consciência para que comece a ser trabalhado com alguma honestidade. Admitir a existência do problema é meio caminho andado, não se tornar vítima dele vestindo a carapuça da menos valia, mais mil passos em direção à glória. Precisamos viver em constante alerta para não repetir esse padrão acachapante conosco e com nossas filhas. Escorregaremos vez por outra na casca de banana deixada ali há gerações... E para levantar, uma pitada de ousadia é ingrediente essencial!


foto: Rodrigo Romano

terça-feira, 10 de março de 2009

A excomunhão da vítima

Cordel do poeta popular Miguezim de Princesa, paraibano arretado, radicado em Brasília:

Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

Mas o mundo está virado

E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Águas de março

Depois de um longo silêncio, uma homenagem aos piscianos:

Netuno é o mais sutil dos planetas transpessoais. Tudo o que ele representa é abstrato: imagens, cores, música, sonhos, estados alterados de consciência (através de drogas, álcool, transe ou misticismo). Não devemos tentar compreendê-lo de forma racional: é o planeta da alma, da sensibilidade, da sublimação, da dissolução do ego, do desmembramento, do escape da realidade para um lugar mais sublime e belo (Éden).

Por sua sensibilidade, piscianos precisam de silêncio, sossego e contemplação. Descobrir isso e colocar em prática deveria estar em seu "manual de sobrevivência". O que o mundo chama de "não fazer nada" é essencial para que possam recarregar suas baterias e não serem engolidos pela confusão externa. Esse lugar do silêncio, seja ele um canto tranquilo, um livro, um caminho, a meditação, ou a praia, é o seu jardim interior. Se você é pisciano, tem planetas na casa 12 ou um Netuno proeminente no mapa natal, visite esse jardim com frequência e a lida com os terráqueos será bem menos invasiva para você.

acrílica sobre tela 1.40 x 2.00m de Guilherme Secchin

http://www.gsecchin.com/