quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Es tiempo de vivir sin miedo. (legendado)

Nesse vídeo, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano fala sobre a vida de forma sensível, verdadeira e simples. Apaixonante!

sábado, 3 de agosto de 2013

Liberdade para as borboletas

Tenho pensado muito sobre a postura das mulheres. Falo daqui do Rio de Janeiro, mas creio estar falando do Brasil como um todo, um país que se diz católico, talvez neo-evangélico. Duas doutrinas que repreendem e amarram terrivelmente o feminino. No catolicismo, a santíssima trindade é pai, filho e espírito santo. O feminino é excluído ou retratado aos pedaços: Maria, a virgem, é mãe e santa, Madalena, a prostituta. Creio que a grande maioria das mulheres esteja em algum lugar do meio nessa pobre e indigesta composição. As igrejas trabalham pelo enfraquecimento da mulher, suas escolhas e liberdade de ação.

De muito pouco vale que hoje sejamos chefes de família se não mudarmos a postura machista de submissão sem consciência ou visão, onde a repressão passa a vir das das próprias mulheres para com suas semelhantes, filhas e irmãs. O machismo é assim perpetrado de geração em geração. Triste. Uma atitude sombria e arrogante. Irônico que ao olhar para países muçulmanos, por exemplo, essas mesmas mulheres se digam horrorizadas com as mortes por apedrejamento, as burcas, a remoção dos clitóris... Quando, no simbólico, estão, elas mesmas, escondidas atrás de burcas da hipocrisia, apedrejando com severas críticas, julgamento e superioridade as que tentam se libertar e ter voz, repreendendo todo o tempo o prazer da outra. É nesse lugar da repressão simbólica, em nome da sociedade, da moral e dos bons costumes, que está a mulher brasileira.

Não quero ofender a fé de ninguém, trata-se de uma questão tão arraigada que é difícil crescer aqui e buscar alguma outra percepção. Todas já sentimos na carne a dor do preconceito e da submissão. A autoanálise é fundamental para o processo de vida, saúde e evolução do feminino. Chega de submissão e repressão, sinceramente. Meu amigo, o astrólogo Marcos Kolker observou: "A primeira forma de opressão que se conhece na sociedade é a do homem sobre a mulher. Engels dizia isso.Tirar o direito das mulheres e tirar o direito sexual de uma pessoa é fascismo, e é a raíz das tiranias e opressões!" 



É preciso estarmos atentas sempre aos nossos atos, posturas e palavras, se quisermos, um dia, caminhar para fora dessa armadilha letal.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vamos fugir, deste lugar, babe!

Mulherada querida do meu Brasil, sei que o momento é político e de luta, mas como cupido nunca descansa nos anseios dos corações e almas femininas, aqui vai um guia-manual rápido e prático. Uma listagem de tipos dos quais devemos fugir com toda presteza e decisão.

Há sim, homens maravilhosos por aí, mas os tipinhos abaixo são o que minha sábia avó chamaria de pura perda de tempo... Sei também que faz parte da vida ter tido pelo menos dois deles no currículo, afinal, a gente não nasce sabendo... O que passou, passou e que sirva de experiência. Bola pra frente. O intuito da lista é alertar e evitar futuros desastres que podem, e vão, machucar mais ainda o seu lindo e bondoso coração. Sei que não é bonito rotular e classificar as pessoas, mas quem resiste?

Atenção! Modo de usar:  Os tipos classificados abaixo não são auto-excludentes, ou seja, há os que conseguem pertencer a mais de uma categoria ao-mesmo-tempo-agora! E, se você já está irrevogavelmente apaixonada e envolvida com um deles, não se desespere, tudo passa!

1 - O ESPORTISTA - esse te dá o maior mole, lança frases de efeito que fazem sua cabeça pirar por dias e noites! Tudo indica que ele está caidinho por você, e que vai rolar em breve, mas ele caça por esporte, amor. Tudo não passa de um teste pra ver se você é ou não receptiva ao seu charme quase irresistível. Na hora da finalização, ele dá uma de Sergio Ramos, aquele jogador da seleção espanhola que chutou o pênalti pra fora... Em suma, melhor sumir!

2 - O SABONETE - esse, todo mundo conhece pelo menos três... Tem muita coisa em comum com o tipo esportista, com a vantagem de que consegue finalizar. Pode até ser um bom PA.  - Se você não sabe o que é um PA, pergunta pra uma amiga mais sagaz. - Mas a serventia é essa e não passa disso. Ele muda de forma e escorrega sempre... Some e reaparece, tem super poderes! Ok, não precisa fugir dos sabonetes, mas se não sabe brincar, não desce pro play!

3 - O SISSI KING - esse bofe se sente: se acha a última coca-cola do deserto, o último biscoito do pacote, a bala que matou Kennedy. Ui que preguiça! Merece ser colocado no banco dos reservas por tempo indeterminado pra ver se volta com um textinho remodelado, mais humilde e coerente. Atenção, nunca elogie ou dê muito mole pra esse tipo pois você só está contribuindo pra sua sissizice atávica e, o que é pior, enfraquecendo o nosso lado.

4 - O MAL CASADO - Vixi, piorou... esse faz a linha coitado, vítima de um casamento horrível, muito infeliz, uma megera monstra com quem ele "não tem mais nada há anos" costuma ser a mãe dos filhos que ele ama perdidamente... Geralmente se dá superbem e descola uma amante de primeiríssima, sempre pronta a lhe agradar, com vocação para salvadora da pátria. Se está envolvida com um desses, busque terapia, ou também pode sentar e esperar ele separar da monstra mocréia pra ficar com vocêzinha, só não prende a respiração!

Queridas, há outros tipos perigosíssimos no mercado, como o aproveitador, o encostado, o drogado, o tirano e o recalcado, mas desses eu não quero nem falar! Corra, Lola, corra!
 E lembre-se:


beijos e boa sorte

sexta-feira, 31 de maio de 2013

meus heróis morreram de overdose

Quando eu era adolescente e não sabia nada da vida, mas achava que sabia tudo, pensava que todo mundo da minha geração cresceria para ser quem fosse, que a minha geração mostraria a que veio. Que, quando estivéssemos no poder, não haveria mais corrupção, nem hipocrisia, nem agrotóxico!!!! Que nossas prioridades seriam o ser humano, a qualidade de vida e não os jogos de poder e o
dinheiro. No nosso mundo adulto não haveria tanta injustiça, nem os sem-terra, nem os sem-teto, nem muito menos índio desprotegido...

Pode debochar, eu era uma inocente... o ácido de Woodstock veio parar na minha veia, e eu virei hippie, paz e amor, pra nunca mais ser diferente... sou da geração flower power, (gente que nasceu entre 60 e 70), pra quem não conhece, o povo da resistência pacífica, que ouve rock, faz a curva e não tem medo da morte, que canta pela liberdade, pela independência, e que não pode causar mal nenhum, a não ser a si mesmo. Um povo amigo, com espírito tribal, que enxerga os velhos e as crianças como responsabilidade coletiva. Uma geração que veio para revolucionar.

Daí a minha indignação com as prioridades dos atuais governantes do meu estado e da minha cidade - não votei neles, mas ainda assim, são dessa geração e portanto, deveriam ser desprovidos de tamanha hipocrisia e ganância. Mas não... Estão ficando, de fato já ficaram, muito ricos com os cargos que ocupam, mas se esqueceram do propósito e do real significado de estarem onde estão. São um desperdício.

Cabral e Paes são uns vendidos, uns covardes. Estão perdendo a chance de realizar um trabalho fantástico, tudo em prol do seu enriquecimento pessoal e dos interesseses sórdidos de empresários como  Cavendish e Eike... Conseguiram endividar um estado rico, acabar com o bondinho de Sta Tereza, venderam o maracanã, estão deixando subir construçãoes em áreas de preservação ambiental, despejam esgoto sem tratamento nas praias... e a lista segue... Quer saber? asssuntinho da semana: vocês são mesmo uns merdas! Vocês são tudo que o deveria morrer e não morreu. Vocês trairam a sua geração. Mas esquecem que vocês mesmos e seus filhos também vivem aqui e de que o lixo vai ser cuspido de volta em cima de vocês. Segredos são revelados, helicópteros caem... e isso, não há fortuna pessoal que emende. Os amigos do Renato Russo e Cássia Eller sabem do que eu estou falando.



domingo, 12 de maio de 2013

Momento deusa - receitinha

Quando foi a última vez que você tirou um momento relax para cuidar de si? Não falo da obrigatória faxina: depilação, unha, cabelo, isso não tá contando.... Falo de um momento exfoliação, beleza, beauté: banho ou escalda-pés e tratamento facial, um tempo de qualidade entre você e vocêzinha. Banhos e escalda-pés são que nem pipoca, podem ser sal ou doce. Vale uma bacia com água quente e sal grosso para megulhar os pés num dia em que esteja particularmente cansada, precisando reabastecer. Só essa mistura seguida de toalha, creminho hidratante e uma meia nos pés já faz muito bem, pode até te salvar de um resfriado.

Agora, se quiser um milagre, invista num vidro de 10ml de óleo essencial de lavanda ou lavandim, que é um pouco mais barato - os de uma boa procedência custam entre 40,00 e 60,00 reais o vidrinho - e duram muito tempo pois apenas 3 gotas são necessárias para um escalda-pés, por exemplo. Se na sua casa tiver banheira, meio caminho andado para a glória, você tem um mini spa! Inspire-se. Vamos criar um clima. Ponha uma música deliciosa para tocar, eu amo e recomendo a trilha original do filme Chocolate, mas todo mundo tem lá sua trilha favorita... Acenda umas velas no banheiro. Encha a banheira com água quente e pingue, na hora que for entrar, umas 6 ou 8 gotinhas de óleo essencial de lavanda ou lavandim.

Enquanto a banheira enche, vá até a cozinha e prepare numa cumbuquinha ou xícara uma mistura de 1 colher de chá de açúcar para 2 de mel, misture e leve com você para o banheiro. Quando estiver feliz e contente no seu banho e já tiver molhado o rosto com a água quentinha,  passe a mistura exfoliante no rosto, fazendo movimentos circulares com as pontas dos dedos, com carinho pra não arranhar. Depois de um tempinho enxague o rosto com a água de lavanda do banho para retirar a máscara "mamãe passou açúcar ni mim". Essa mistura de mel com açúcar também pode ser usada para exfoliação corporal, aí sugiro que acrescente uma colher de azeite extra virgem na mistura, muito boa para a circulação e para a maciez da pele. Passe no corpo também em movimentos circulares e simplesmente enxague depois. Como a superfície do corpo é bem maior, melhor dobrar a quantidade de mel e açúcar. Esse banho é sem sabonete, tá?

Azeite de oliva extra virgem não é bom-bril mas tem mil e uma utilidades. Depois da exfoliação facial e de ter enxugado o rosto, coloque um pouquitito na palma da mão e passe no rosto - bem pouquinho mesmo, tipo meia colherinha de café. Pode passar sem medo. Sua pele recém exfoliada vai sorver todos os nutrientes puríssimos do azeite e, garanto, vai ficar radiante e cheia de viço, parecendo que você fez um tratamento caríssimo ultra master plus moderno a laser. Se sua pele for oleosa, pode depois do azeite lavar o rosto com água morna, depois fria. E pronto. Eu, deixo o azeite trabalhar, só lavo o rosto no dia seguinte de manhã. Se não acredita em mim, pode pesquisar as propriedades do azeite de oliva extra virgem.

Ainda depois do banho, momento hidratação: beba muita água ou um chá de jasmim, camomila, erva doce, cidreira ou hibisco.
Vista uma roupa confortável e tenha bons pensamentos. Antes de dormir, uma gotinha de óleo essencial de lavanda no travesseiro garante bons sonhos e um sono tranquilo.
Um pouquinho de amor próprio é tão bom, faz tão bem...  e custa tão pouco!



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terça-feira, 30 de abril de 2013

poema do fim de abril

passam as luas
as paisagens
as ruas

os sonhos
muito mais interior do que as metades
passam os sonhos

nada
talvez uma frase de música
uma onda, um mar de longe
um olhar que se perdeu

vento vermelho
fim de abril
numa tarde inquieta e febril
a memória de um gemido
singular



Vincent van Gogh (Dutch, 1853-1890): Sprig of Flowering Almond Blossom in a Glass, 1888. Created in Arles, France. Oil on canvas, 24 x 19 cm. Van Gogh Museum, Amsterdam, Netherlands.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Besta é tu?

Hoje me aconteceu uma coisa muito bizarra: estava na fila da agência dos correios, onde vou quase que diariarimente, quando entrou sujeito marombado vestindo uma camiseta Exército de Jesus, distribuindo panfletos para os demais. Muito educadamente, recusei o papel agradecendo - da mesma forma como agradeço e não costumo pegar filipetas de festa ou propaganda de quem compra ouro. Mas o cara tomou como ofensa a minha recusa, surtou, começou a rogar pragas bíblicas em voz alta em pleno correio e, ao ver que eu não ia reagir, pois imediatamente acionei o módulo cara de paisagem, ficou ainda mais revoltado. Não satisfeito com as pragas proferidas, o cara sentou numa cadeira atrás da minha e começou a entoar, em voz bem alta, hinos ao Senhor. Nessa altura, minha adrenalina já tinha ido a milhão, eu respirava fundo e lentamente, tentando contar pro meu corpo que estava tudo bem, mas o coração continuava disparado.. Respirando, esperei minha vez, fiz a postagem e saí da agência ainda com medo de que ele me abordasse na rua ou coisa assim...

Mesmo sendo eu uma pessoa espiritualizada e, acredito, protegida, conto aqui essa experiência que me causou um certo trauma, dei até uma choradinha depois... Um assalto? Sim, um roubo energético desestabilizador. "Só se você deixar" pondera minha consciência, mas no corpo e na energia, já aconteceu e não passa impune. Agora vou ter que ficar bem quietinha, rezar, tomar banho, tomar rescue, encontrar caminhos para reparar o prejuízo. Chorar com uma amiga? Pedir colo? Ouvir de Nossa Senhora o consolador "foi um só um susto, filhinha, já passou", pensar na voz da minha avó falando assim... Ouvir George Harrison, My Sweet Lord, deixar a melodia inundar a minha alma, recuperar a força, a leveza e o riso.

Não sei que Deus é esse que dá a um o direito de desrepeitar o outro.

O  Deus que eu conheço remove montanhas mas não importuna quem está na sua, trabalhando, sem fazer mal a ninguém. Não roga pragas. Não causa desassossego. O Cristo que eu conheço oferece a outra face e se compadece, em face da adversidade e da dor. Como diria Analu Prestes no espetáculo Emily, sobre a poeta Emily Dickinson: "Em nome da abelha, da vespa e da brisa, amém."

Hare Krishna,
Om Namah Shivaya,
Namastê.


 pátio em Amsterdam

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Mirror

I look in the mirror
And what do I see?
A strange looking person
That cannot be me.

For I am much younger
And not nearly so fat
As that face in the mirror
I am looking at.

Oh, where are the mirrors
That I used to know
Like the ones which were
Made thirty years ago?
 
Now all things have changed
And I'm sure you'll agree
Mirrors are not as good
As they used to be.

So never be concerned,
If wrinkles appear
For one thing I've learned
Which is very clear,

Should your complexion
Be less than perfection,
It is really the mirror
That needs correction!!

Edmund Burke (1729-1797), filósofo irlandês


Acho esse poema de uma belezura sem fim. Muito útil para todos os momentos em que não nos reconhecemos muito bem no querido amigo espelho...

Vou fazer uma tradução livre:

Espelho

Olho no espelho e o que vejo ali?
Uma pessoa estranha, não me reconheci.
Pois sou bem mais jovem e não tão gordinha
quanto o rosto que me olha, cara de fuinha!

Ah, me diz onde foram parar os espelhos em que eu costumava me olhar?
Como os que eram feitos antigamente..
Agora está tudo mudado, tenho certeza de que vai concordar:
Já não se fazem espelhos bons no presente.

Então não se preocupe se as rugas aparecerem
Pois uma coisa está clara e aprendi:
Se sua aparência for menos que a perfeição,
É o espelho que está precisando de correção!!

 

segunda-feira, 4 de março de 2013

Da morte e das vontades da vida

Nunca visito meus mortos no cemitério, porque acho simplesmente que eles não estão lá. Converso com eles em casa mesmo, as vezes andando na rua, vão no meu pensamento e no meu coração, afinal, é lá que de fato estão. Mas quando a minha irmã morreu, achei por bem plantarmos uma árvore pra ela no jardim da casa do meu pai, assim ela ficaria simbolizada como referência viva, até para que as filhas a pudessem visitar... Dei a ideia e meu pai achou bom, assim compramos um jasmim, cisma da minha cabeça - já imaginei o perfume sendo levado pela brisa da noite...

Sem nenhuma pompa mas com toda a circunstância, o jasminzinho foi plantado no dia do aniversário dela. Nos reunimos com essa finalidade, entre lágrimas, muitos risos e até um tombo! Meu pai e as meninas fizeram o plantio e a rega. Porém a vida - assim como a morte e a própria Janaina -  é de personalidade forte e tem lá seus caprichos: muito para o meu espanto, o jasmim morreu...

Mas aconteceu que tempos depois, meu pai recebeu, não sabe nem dizer de onde, uma muda de mamoeiro que foi plantada sem intenção de qualquer simbolismo, a poucos metros de onde havia sido plantado o jasmim: vicejou! O pézinho virou árvore, deu flor, e, esse ano, começou a dar muitos frutos lindos e deliciosos. Mamão bahia, Janaina Mamede. 

Veja você, minha irmã, mãe zelosa, não quis ser flor perfumosa, e sim alimento, fruta apetitosa. Café da manhã, fartura e gosto. E uma baita saudade.


botanical illustration 18th century


sábado, 2 de março de 2013

De outro mundo ou no mundo dos outros

Deus me livre de quem faz festa de criança com animador urrando no microfone!
Há em mim uma moradora muito antiga que anseia por passeios de charrete,
caminhos de terra batida e cheiro de seiva...
Gosta de sossego e de balanço, manso.
Bolo de fubá, café e simplicidade.
Nunca mais vi as joaninhas tão presentes na infância...
Será que estão em extinção?


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Ó que delícia!

Há muito não recebo um texto que me tocasse tão profundamente... Não sei de quem é a autoria, mas gostei tanto, tanto, que vou postar aqui:

 Tô Idoso
Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais lisa. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo.
Eu me tornei meu próprio amigo. .. Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou por não fazer a minha cama, ou pela compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão "avant garde" no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.
 

Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até as quatro horas e dormir até meio-dia? Eu dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60&70, e se eu, ao mesmo tempo, desejo chorar por um amor perdido ... Eu vou. Vou andar na praia em um calção excessivamente largo sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros no jet set. Eles, também, vão envelhecer.
Eu sei que às vezes esqueço algumas coisas. Mas há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes.

Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.
 

Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Eu ganhei o direito de estar errado. Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser idoso. A idade me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Gema e Clara

cozinhar é uma das mais puras formas de amor
em qualquer tempo
seja onde for
sem ser dar de bandeja

só sei ser verdadeira
passista primeira
do tipo que o mar serena
quando ela pisa na areia
não sou, mas ser ei a 
Ilustração Ana Oliveira