sábado, 15 de setembro de 2012

50 tons - preto no branco, cores berrantes e aquarelas

Acabo de ler o primeiro livro da trilogia de E L James, Cinquenta Tons de Cinza. O livro, que virou o hit do momento, segundo uma amiga minha, o "Harry Potter da mulherada", é um mergulho no erotismo, o que já torna a leitura instigante e interessante. Afinal, qualquer coisa que desperte a chama e nos faça explorar um pouco mais a sexualidade é em si um tônico. Já tô no 2!

Como recém li o Intimidade, da antropóloga Mirian Goldenberg, alguns conceitos dela me vêm à mente. O primeiro deles é o nosso desejo intrínseco de agradar ao parceiro. Queremos agradar, nascemos para agradar, nos agrada agradar. Na relação entre os personagens do 50 Tons, há um contrato explícito de dominação e submissão. Contrato esse que descofio estar presente na maioria dos relacionametos amorosos. Só que, diferente da narrativa do livro, essa questão está velada, implícita, não assumida, como se fossem aquelas letrinhas minúsculas que nunca ninguém lê... - O que agrada e o que desagrada o parceiro. O que devo fazer para ser recompensada? O que tenho medo de fazer e ser punida? - Cada relacionamento tem lá seu próprio jogo de poder... Cabe um alerta: quase sempre o que é obvio é invertido: "As vezes quem pede perdão é que está perdoando, e da vida recebe o troco quem paga pra ver..." como diz tão lindamente a poesia do samba Deixa de dar Defeito de autoria do meu amigo Rogê em parceria com Marcelinho Moreira.

Há muitos outros conceitos de Mirian presentes na trilogia, além desse da necessidade de agradar: o do corpo como capital, o da autovalorização pautada no ser a única na vida do parceiro, mas o conceito que mais me assusta é o da "miséria subjetiva". É o seguinte: em suas pesquisas com mulheres brasileiras, a antropóloga descobriu que a queixa da falta é recorrente. Umas queixam-se de falta de afeto na relação, outras, de falta de intimidade, outras ainda, da falta da relação em si... falta isso, falta aquilo, a lista das faltas é infinda... Mirian chama essa falta de miséria subjetiva. E voilá, na trilogia dos 50 Tons, lá está a falta... Como assim tanto e tão pouco?

Entendo que a falta é o que nos move, sem ela, poderíamos ficar mediocremente estagnados... E sei que a alma tem muitos anseios, cada um/uma de nós tem em si seu buraco negro... (Isso deve remontar a Freud e sua teoria de inveja do pênis... não sei, chego a pensar na falta como algo descrito na nossa própria anatomia... ) Mas a questão é que não quero ser um poço de insaciabilidade. Me recuso a pautar a vida no que me falta. E quando me sinto muito queixosa e faltosa, terror ao qual não sou imune, tento fazer o exercício de pensar no que eu tenho. Quero focar na metade cheia do copo. Xô xô, de mim, miséria subjetiva!



mais um samba, o samba salva! MANEIRAS, na voz do rei Zeca -

domingo, 9 de setembro de 2012

Independência ou morte!

Lendo Intimidade, livro da antropóloga Mirian Goldenberg, não dá pra não pensar na vida dentro de um contexto social de gênero onde as mulheres se impõem obrigações e tem-ques além da conta. Ao que parece, no Rio de Janeiro, se você não for jovem, não pode ser gostosa, muito menos se sentir... passou dos 40, tá passada; então, as pesquisadas além 50 se queixam, quase que em unanimidade, de estarem velhas demais para novas investidas amorosas... eita maluquice! Já as alemães da mesma faixa etária - diga-se de passagem, muito mais fisicamente detonadas do que as brasileiras - se percebem de uma outra forma, mais realizadas e experientes, parecem mais confortáveis com a maturidade, menos dependentes da aprovação da sociedade e de fatores externos. A ditadura do corpo perfeito pode esmagar a luz do indivíduo? ah que chatice... como se, de perto, alguém fosse perfeito... É quase inacreditável pensar que deixamos que o nosso senso de valor próprio e identidade seja regido por uma sociedade com valores e conceitos tão equivocados - e americanizados.

Assisti O Exótico Hotel Marigold, um filme inglês passado na India, onde a estética foge do botox para o brilho no olho. Nesse contexto, o envelhecimento é vivido mais simples e hamonicamente, não sem seus questionamentos e inevitáveis ajustes, porém, visto de uma forma mais leve, natural, sem a sombra da ilusão da eterna juventude... Um filme maravilhoso. Judy Dench, deusa, mostrando que dá pra fazer diferente.

Depois vi Histórias Cruzadas (The Help), uma outra referência de feminino no tempo e numa sociedade preconceituosa. Um filme extremamente claro em mostrar a crueldade de que são capazes as mulheres em seu mundinho bitolado e burro... a mesquinhez, a falsa noção de superioridade de raça. Mas a redenção no filme vem da nossa capacidade de união, da amizade e do respeito. E da ousadia de fazer diferente. Ah, a transgressão! Um filme muito sensível, comovente, imperdível. Viola Davis, arrasando.

O que tudo isso tem a ver? Mulherada, wake up and smell the coffee! Vamos abrir os olhos, com ou sem pé de galinha, e tirar os antolhos, as amarras, as algemas autoimpostas!

E viva a liberdade!