sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mudança, um tônico

Tenho a maior admiração pela escritora, poeta e cronista Lya Luft, acho-a um exemplo de mulher que se reinventa, sem inventar demais, se é que você me entende... Um dos livros dela, O Rio do Meio é, certamente, um dos meus "favoritos da vida". Há algum tempo, recebi um email contendo um texto dela, aquelas coisas da internet que a gente nunca sabe se a autoria está correta... Adorei o texto, encaminhei a uma amiga e agora resolvi publicar aqui. (O blog anda meio abandonadinho, mas ainda adoro poder partilhar coisas com meus amigos por esta via.)
Aí vai o maravilhoso texto (que agora descobri ser da Martha Medeiros*):

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Os olhos da cara

Recentemente participei de um evento profissional só para o público feminino. Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. Principalmente idades. Lá pelas tantas fui questionada sobre a minha, e como não me envergonho dela, respondi. Foi um momento inesquecível. A platéia inteira fez um "oooohh" de descrédito. E quando eu disse que, até aqui, ainda não enfiei uma única agulha no rosto ou no corpo, foi mais emocionante ainda: "oooooooooooooooohhhhhh". Aí fiquei pensando: pô, estou nesse auditório há quase uma hora exibindo minha incrível e sensacional inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa na mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho. Onde é que nós estamos?

Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado "juventude eterna". Estão todos em busca da reversão do tempo, e com sucesso: quanto mais ele passa, mais moços ficamos. Ok, acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas. Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama-se mudança. Eu sei disso, você sabe, e a escritora Betty Milan também, tanto que enfatizou essa frase em seu mais recente livro, Quando Paris Cintila. De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. A única maneira de sermos idosos sem envelhecer é não nos opormos a novos comportamentos, é termos disposição para guinadas. É assim que se morre jovem, sem precisar ter o mesmo destino de um James Dean ou de uma Marylin Monroe. Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

Mudança, o que vem a ser tal coisa?

Minha mãe recentemente mudou-se do apartamento em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras que havia guardado, e mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu. Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos de idade. Rejuvenesceu. Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um ótimo emprego em Porto Alegre por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela caminha na beira da praia todas as manhãs. Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional. Antes de tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna. Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco, porque não existe plástica que resgate seu brilho. O que dá brilho ao nosso olhar é a vida que a gente optou por levar. Um olhar iluminado, vivo e sagaz impede que a pessoa envelheça. Olhe-se no espelho. Você tem um olhar de quem estaria disposta a cometer loucuras? Tem que ter.

E aí pode abrir o jogo, contar a verdade: tenho 39, 46, 57, 78 anos! Ooooooohhhhh. Uma guria."


Outra coisa que quero partilhar, ainda sobre o mesmo tema, é um livro chamado Wisdom (sabedoria), de Andrew Zuckerman, uma coletânea de depoimentos sobre envelhecimento, vida, sobre sabedoria de vida. Não tenho o livro... mas dois dos depoimentos que aparecem no vídeo me marcaram muito. O primeiro foi o do fabuloso maravilhoso Robert Redford, em que ele diz mais ou menos assim: "Sabedoria tem a ver com experiência, o que por sua vez inclui correr riscos e se aventurar". O outro, que amei, foi uma frase da escritora inglesa Rosamund Pilcher, ela diz simplesmente: "Você não deixa de fazer as coisas porque fica velho, você fica velho porque deixa de fazer as coisas."
Para assistir um breve vídeo sobre o projeto, clique aqui.


a beleza e elegância da sra. Rosamund Pilcher (foto tirada da internet)

* ERRATA:
o texto acima creditado à Lya Luft é de fato de uma outra cronista que adoro, Martha Medeiros, chama-se OLHOS DA CARA e foi publicado no jornal Zero Hora, em 1 de junho de 2008. (Minhas amigas Bia e Verônica, luas em Libra, têm razão.)