segunda-feira, 16 de março de 2009

Entre mães e filhas

Mãe: Alô?
Filha: Mãe? Posso deixar os meninos contigo hoje à noite?
Mãe: Vai sair?
Filha: Vou.
Mãe: Com quem?
Filha: Com um amigo.
Mãe: Não entendo porque você se separou do teu marido, um homem tão bom...
Filha: Mãe! Eu não me separei dele! ELE que se separou de mim!
Mãe: É... você me perde o marido e agora fica saindo por aí com qualquer um...
Filha: Eu não saio por aí com qualquer um. Posso deixar os meninos?
Mãe: Eu nunca deixei vocês com a minha mãe, para sair com um homem que não fosse teu pai! Filha: Eu sei, mãe. Tem muita coisa que você fez que eu não faço!
Mãe: O que você tá querendo dizer?
Filha: Nada! Só quero saber se posso deixar os meninos.
Mãe: Vai passar a noite com o outro? E se teu marido ficar sabendo?
Filha: Meu EX-marido!! Não acho que vai ligar muito, não deve ter dormido uma noite sozinho desde a separação!
Mãe: Então você vai dormir com o vagabundo!
Filha: Não é um vagabundo!!!
Mãe: Um homem que fica saindo com uma divorciada com filhos só pode ser um vagabundo, um aproveitador!
Filha: Não vou discutir, mãe. Deixo os meninos ou não?
Mãe: Coitados... com uma mãe assim...
Filha: Assim como?
Mãe: Irresponsável! Inconseqüente! Por isso teu marido te deixou!
Filha: CHEGA!!!
Mãe: Ainda por cima grita comigo! Aposto que com o vagabundo que tá saindo contigo você não grita.
Filha: Agora tá preocupada com o vagabundo?
Mãe: Eu não disse que era vagabundo!? Percebi de cara!
Filha: Tchau!!
Mãe: Espera, não desliga! A que horas vai trazer os meninos?
Filha: Não vou. Não vou levar os meninos,> também agora não vou mais sair!
Mãe: Não vai sair? Vai ficar em casa? E você acha o que, que o príncipe encantado vai bater na tua porta? Uma mulher na tua idade, com dois filhos, pensa que é fácil encontrar marido? Se deixar passar mais dois anos, aí sim que vai ficar sozinha a vida toda! Depois não vai dizer que não avisei! Eu acho um absurdo, na tua idade você ainda precisar que EU te empurre para sair!

O diálogo acima é fictício e desconheço o autor, recebi de uma amiga por email e não pude deixar de reparar o quanto essa filha não tem saída: se sai com um novo homem, é uma aventureira desnaturada, se não sai, é uma encalhada amargurada.

Há muito que as mulheres se tratam com esse menosprezo, a si mesmas e umas às outras. Para serem merecedoras de um mínimo de respeito e admiração, precisam preencher quesitos considerados "básicos". Não é novidade para nenhuma de nós ter nossa existência validada por outras mulheres apenas se tivermos um marido (se mantivermos a relação), se tivermos filhos, se, se, se... A baixa estima é uma praga que atravessa gerações, envenenando totalmente nossa auto-avaliação e, consequentemente, nossas escolhas.

Não tenho uma varinha de condão que resolva o problema de forma imediata e eficaz. Mas sei que algo precisa ser trazido à luz da consciência para que comece a ser trabalhado com alguma honestidade. Admitir a existência do problema é meio caminho andado, não se tornar vítima dele vestindo a carapuça da menos valia, mais mil passos em direção à glória. Precisamos viver em constante alerta para não repetir esse padrão acachapante conosco e com nossas filhas. Escorregaremos vez por outra na casca de banana deixada ali há gerações... E para levantar, uma pitada de ousadia é ingrediente essencial!


foto: Rodrigo Romano

21 comentários:

Anônimo disse...

Quebrar parâmetros e barreiras dá trabalho, mas no final das contas, acaba sendo ótimo! Santo remédio pra auto-estima!
Beijos enormes!
Gabi

Anônimo disse...

Não tem nada de errado em querer que uma filha tenha marido e filhos! Algumas mulheres são felizes e realizadas assim.

Adriana Pinheiro disse...

Acho que vc (anônimo) não entendeu o post. Nada contra maridos e filhos... podem somar muito, só não são a validação da existência de uma mulher.

Anônimo disse...

não entendi onde o menosprezo entrou na conversa das duas....

mauri

Adriana Pinheiro disse...

uai, mauri, então vc não percebe qdo a mãe "ameaça" a filha dizendo que ela vai acabar sozinha, como se esse fosse o pior dos castigos? Quando ela diz que a fofa não vai arrumar marido? a garota pode querer só sair com alguém novo, não necessariamente casar...E há outros tons de menosprezo ao longo do diálogo... qdo ela desqualifica a capacidade da filha de ser uma boa mãe por querer uma noite de folga...
Menosprezar significa ter em pouca conta, desdenhar.

Anônimo disse...

ADri, concordo com tudo o que foi dito, mas o tempo todo que li o dialogo fiquei pensando: MAS PORQUE ESSA CRIATURA NAO CONTRATA UMA BABA? Assim, ele nao ficaria "na mao" da mae e nao teria que ouvir esses absurdos!

Beijos e viva a independencia de ter filhos/nao ter filhos; sair com quem a gente quiser/ou nao.

R-tinha

Anônimo disse...

Roberta ,
Estou 100% contigo ! Faço de suas as minhas palavras !
Não podemos viver a vida que a sociedade nos impõe e sim viver a vida que nos paz de espirito.
bjos,
Renata

Anônimo disse...

Dri,
Nem preciso dizer que AMEI, né?
bjs Juli

Anônimo disse...

Adriana, eu ia lendo o diálogo e ia ficando tensa, mas acabei por rir com o comentário acerca da bábá,só que nem todo o mundo deve ter dinheiro para bábás,penso eu...Quanto a "esse" menosprezo entre as mulheres,é claro que existe. Existe entre mães e filhas, entre irmãs, amigas,conhecidas e etc.O que é uma pena!Parece que estamos sempre no mesmo lugar,que as coisas não andam,que as mentes não evoluem.Era exactamente igual no tempo da minha avó.
Puxa...que triste! Bj, Isabel

Adriana Pinheiro disse...

queridas, ainda bem que vcs deran o ar da graça por aqui!!!
Esse diálogo é muito explícito, normalmente o menosprezo é bem mais sutil, com ares de reprovação ou olhares de piedade.
Mas para as coisas sairem desse lugar é preciso que NÓS não nos julguemos por esses parâmetros e é esee a motivação da postagem: Alerta geral, nada de menos valia!

Anônimo disse...

bom dia.
o fato da "ameaça" não seria uma preocupação da mãe com a dificuldade de criar dois filhos sozinha? a certeza que a vó vai partir e o receio que sozinha as coisas são possiveis porem mais dolorosas? E a Mãe sabe que a herença que a filha acha que vai ganhar, o Madoff robou? O dialogo é muito curto, para lançar qualquer opinião é preciso saber como são essas duas mães. Qual a periocidade que a filha pede a mãe para cuidar dos filhos?
Sim vocês mulheres são capazes, alias nós seres humanos somos capazes. No entando, somos menosprezados diariamente por nós mesmos.
mauri

sonia disse...

Acabei de receber um texto da Martha Medeiros " Mulheres possíveis" (esta na internet é só dar um google) que exemplifica bem essa questão.Nós mulheres não precisamos nos sentir tão culpadas (pois somos à muito cobradas disso) ser mãe é divino e a inclusão neste tempo de todas as funções da mulher também é.
Ser feliz nesse equilíbrio é essencial na vida.

Anônimo disse...

concrdo com o mauri: essa mãe quer o bem da sua filha, aliás como toda mãe! Ela está preocupada, só isso! Nada haver falar mal das mães...

Adriana Pinheiro disse...

Pelas barbas de netuno, ninguém falou mal de mãe nenhuma!!! Essa postagem é sobre baixa estima do feminino, coisa antiga, que vai passando de geração em geração e a gente nem se dá conta...


Sonia, adoro esse texto da Martha Medeiros, o culpa zero, muito bom mesmo!!! Vale pescar no google.

Anônimo disse...

Mauri ...resumindo o texto e tudo que Dri quis dizer ....esta mãe (do texto) está verdadeiramente morrendo de inveja da liberdade recém adquira pela sua filha.Ela , mãe , gostaria de ter tido a mesma coragem que a filha teve de assumir a sua vida e seguir atras da sua felicidade!
assinado,Duquesa de Salles Brun

Adriana Pinheiro disse...

hahahaahahahhaahahahaha
Duquesa, que luxo, sua alteza no blog!

Anônimo disse...

Se eu fosse a filha apresentava esse carinha pra mãe e de repente já resolvia esse amargor da mesma.

Anônimo disse...

Afinal ela saiu ou não com o vagabundo? Se não saiu, marcou bobeira...
Eu neste cenário seria o tal vagabundo, e acabei me dando bem com a Duquesa do post aí de cima.

Anônimo disse...

Que vergonha para essa pobre mãe ver a sua filha (carne de sua carne! - tão esperada, amada, alimentada, cuidada, mimada, enfim - uma bonequinha de luxo!), de repente, não mais que de repente, transformar-se na oferecida e desfrutável mulher balzaca! "- Que vergonha meu Deus!": dirá essa mãe. "- O que vão pensar as minhas amigas?": perguntar-se-á no turbilhão de seus pensamentos, palpitante o coraçãozinho aflito na taquicardia da moral castiça. Que horror! Que horror! Que desgosto é a minha filha! Enfim, depois de anos resignada, cá com seus botões reflete, dirá a si: "antes oferecida a minha pequena devassa, que encalhada!"
Mumu

Anônimo disse...

Adriana, escreva sobre dicas de moda e beleza, o horóscopo do dia, sei lá! Já viu que esses papos cabeça acabam em pizza!

Anônimo disse...

Cada cabeça uma sentença.
É muita perda de tempo.
Vamos fazer uma pizza rápido.
Estou com fome!!!