quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Pastor Amoroso

Quando estava na oitava série (colégio Andrews), tive a melhor professora de Português que já tive na vida, era gaúcha e chamava Maria Emília. Durante aquele ano, essa mestra generosa nos ensinou a ler o que classificávamos como "livros difíceis de ler". Dentre eles, O Eu Profundo e os Outros Eus, do Fernando Pessoa. Bem mais tarde, quando fui morar na Inglaterra, foi esse um dos livros que levei comigo para abrir e ler quando me sentisse só. Assim, Fernando Pessoa se tornou um dos meus melhores amigos. Durante anos, tive a fantasia de encontrar a professora na rua e poder contar o tamanho do bem que me fez, dizer-lhe que era ela a pastora amorosa ao encaminhar aquele rebanho para o gosto da Língua Portuguesa. Serei grata à Maria Emília por toda a minha vida por ter me aberto os olhos.

Vou transcrever aqui a segunda parte do poema O Pastor Amoroso (Alberto Caeiro) , do genial, incrível e sempre presente Pessoa. Depois, outro dia, transcrevo a terceira parte, que é a que mais amo. Pra os que já conhecem, fica a delícia de ler ainda mais uma vez:

"Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
E já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos.
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim."
6/7/1914

o poeta Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa em 13 de junho de 1888, nesta fotografia, aos 20 anos. Fernando também era astrólogo. Morreu em 30 de novembro de 1935.

"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus."

Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15.

9 comentários:

Anônimo disse...

lindo

JuSaad disse...

delícia, dá vontade de armar um sarau para ouvir poesia acompanhada de chá e bolo e maçã:)

Adriana Pinheiro disse...

Vem visitar, Ju querida, façamos esse sarau! beijos

Anônimo disse...

QUERIDINHA , LENDO "seu" Fernando hoje , me lembrei de um livro de poesias do Neruda quando jovem , cadernos de Temuco , e na pag.71 tem uma das minhas preferidas
A BELEZA IGNORADA
Curvados sobre a borda do caminho ,uma tarde,
sentiremos as almas fatigadas de dor,
olharemos a senda percorrida, covardes,
nunca mais sentiremos o divino tremor!

Nunca mais nossos olhos nos mentirão adeuses,
as peregrinações de vida e de emoção,
e ao sentir a suprema saudade dos prazeres
vislumbraremos uma fatal renunciação

É quando sentiremos a sagrada realeza
de achar em nos mesmos a fonte da beleza
que pela vida a fora nos enchera de amor

Quando ardente de rosas rebrilhar o caminho
tangido pelo impulso de algum calor divino,
vamos sentir no peito esse mesmo calor.

bjs
Chris Baerlein

Adriana Pinheiro disse...

Ah, Chris, o Neruda... lindo!
obrigada :)

Anônimo disse...

Adriana, ainda ontem estive bem na frente da casa onde ele morou, no Largo do Teatro Nacional de S.Carlos, onde aconteceram umas noites de música, bailado e teatro.
Foi lindo
Deu vontade de voltar atrás no tempo e ficar ali, à espera de o ver entrar...
Beijos e Saudades. Estou meia acampada, mas a minha primeira receita aqui, vai ser o seu bolo de maçã. Depois conto.

Rodrigo Romano disse...

mais uma do mestre..

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Adriana Pinheiro disse...

muito bom esse texto... mas não é do Pessoa... é umas dessas coisas da internet, parece que é da autoria de um professor chamado Fernando Teixira de Andrade.

disse...

Lembro de vc lendo na nossa casa, na muitas vezes. foi por aí que eu tembém comecei a gostar do Pessoa.
Agradece a MAria Emilia por mim....