domingo, 15 de maio de 2011

Um homem pra chamar de seu

Acabei de ler um livro chamado O Mundo Pós-Aniversário, de Leonel Shriver. Logo no começo da história, a personagem principal, que é casada, sente enorme atração por um amigo do casal. A partir daí, o livro se alterna em duas narrativas. Na primeira, ela resiste à tentação e continua casada, embora empurrando para debaixo do tapete seus anseios e frustrações para não "criar problema". Na segunda, ela inicia um romance com o amigo e deixa o marido para ir viver o novo amor. Nessa segunda relação, ela se vê relegando o seu trabalho para orbitar em torno do novo marido. De uma ou outra forma, a trama nos faz refletir sobre temas como segurança, submissão, auto estima, erotismo e tudo o que compraz o universo ou papel do feminino dentro de um relacionamento amoroso. É impossível não se identificar com a personagem e também não se aturdir com as "burrices" dela... uma leitura muito interessante e instigante que nos coloca frente à frente com nossas próprias barganhas relacionais.

É essencial ressaltar o quanto, apesar de todas as conquistas no âmbito sócio-econômico, nós mulheres continuamos tendo a vida amorosa como fonte primordial de validação da nossa existência/felicidade. Talvez por questões fora do alcance consciente... Recebemos uma herança de crença coletiva que pode sussurar ou gritar frases como "você é independente demais para atrair um homem", "o fim do seu casamento foi culpa sua, você não soube "segurar" o seu marido", "coitada de você, está sozinha... não dá sorte nos relacionamentos!" Se essas vozes estão secretamente no comando, que preço estamos dispostas a pagar para ter um relacionamento? Calar essas vozes talvez seja uma tarefa individual, mas que precisa ser trazida à luz da discussão se for para transmitirmos às gerações futuras conceitos mais flexíveis de felicidade.

No último programa Saia Justa, exibido no GNT, foi posto em debate o resultado de uma pesquisa da cientista social Debora Emm, exatamente sobre esse tema. A revelação de um segredo íntimo, a nossa sensação de inadequação ou incompetência quando estamos sozinhas. Vale assistir:

8 comentários:

Fernanda Mirtes disse...

É uma pena que essa questão seja verdadeira. A mulher, mesmo aquelas ditas bem-resolvidas, no seu íntimo, querem ser "validadas" por alguém.
Lembro da minha longa estada na vida solteira e consigo perceber claramente a angústia citada, mesmo em momentos de felicidade, na mais completa solteirice.
Acho que precisamos de mais algumas gerações para tirar essa coisa ruim que é ter que ser 'validada' por alguém. Isso é injusto.


Este livro que você acabou de ler é o primeiro na fila de leitura do Pedro. Assim que ele terminar, serei eu.
Antes dele vou encarar A Insustentável leveza do ser, já leu?

Beijo grande.

nós duas disse...

Preciso ler, preciso ler!!!!
Valeu pela dica.

Beijo

JuSaad disse...

Tô louca pra ler esse livro, Adri.
Saco termos que, ainda hoje, ouvir o ronco surdo de cobranças tais como: casamento, marido, filhos...

Adriana Pinheiro disse...

Pois então... também as ouço...
Claro que a vida é mais completa se temos um companheiro, mas daí a se avaliar por isso, já é demais!
beijos beijos

Renata disse...

Acho que todas as mulheres ouvem essas cobranças. Mas será que esses institutos (casamento, marido, filhos) realmente, trazem felicidade e nos completam? Eu ainda não sei. Creio que as próximas gerações não sejam mais tão questionadas quanto a isso, pois a nossa geração ainda não caiu na real, com algumas raras exceções que questionam e botam a boca no trombone e às vezes, ainda, são chamadas de loucas, ousadas, etc... Saudades Adri. Bjs. Renata Monte Alto

Anônimo disse...

Somos programadas para ser desejadas, se não somos, estamos fritas e sem nenhuma auto-estima! Para isso, dependemos dos favores dos homens. Sou dependente e assumo.

Adriana Pinheiro disse...

Ah, anônima, essa coisa de depender dos favores dos homens é o que me assusta! Isso os coloca numa superioridade que só atrapalha tudo!
Amar uma mulher não é nenhum favor.
Nada de se sentir grata pelo amor ou atenção de ninguém... embora admita a humanidade do sentimento! Pelo menos a nossa pequena discussão está mais rica e sincera que a do Saia Justa! thanks girls!:)

William disse...

Eu do outro lado do balcão . Kkk me aprofundei no assunto. E do lado de ca, esse movimento em questão acaba com um inicio de uma historia de amor, sexo ou qualquer coisa. Que o destino já dava como certa a felicidade a dois. Mas a voz nao conseguiu ficar calada e ecôo como cobrança. Como todos correm de cobrança o barco da felicidade virou.