quinta-feira, 22 de julho de 2010

Entre cobras e cobranças

Hoje quero divagar sobre as pessoas abelhudas e sem noção que fazem as perguntas mais indiscretas e estapafúrdias. Repare que, geralmente, é gente com quem se tem pouca ou nenhuma intimidade, que, por pura diversão ou falta de assunto, pergunta coisas de foro super íntimo. É praticamente um fenômeno comportamental.

Vivo isso pessoalmente e vejo o mesmo acontecer com amigos, com pacientes... pode acreditar, a coisa é uma verdadeira praga. Outro dia estava em um jantar e uma pessoa se interessou pelo meu brechó, começou fazendo perguntas despretensiosas do tipo, "faz sucesso?", "ah é?", "vende muito?" e me saiu com um "quanto?" e, ao perceber que fui evasiva na resposta, insistiu: "mas quanto vocês lucram por mês?" HÃ??? COMO ASSIM??? deu vontade de dizer com a cara mais séria do mundo que não podia revelar números, mas que um grupo japonês já havia feito uma proposta de compra do domínio... rsrs Mas é claro que essa resposta incrível só me ocorreu dias depois...
Nessas horas, pode-se:
a) fazer cara de paisagem, mudar de assunto e sair de fininho
b) fingir que engasgamos com um caroço de azeitona e estamos passando muito mal
c) ser direta e dizer: "meta-se com a sua vida e atenha-se a ela, inconveniente!"
A questão é que quase sempre somos pegos de surpresa por esses bombardeios e acabamos sendo educados e gentis, como manda o protocolo e a opção "a". Depois, ficamos remoendo que respostas desaforadas e/ou irônicas poderíamos ter dado...

Casais passam por isso: se não estão casados, perguntam "quando vão casar?"; se casaram, perguntam "quando vão ter um filho?"; se tiveram um filho perguntam "quando vão ter o próximo?" Tudo muito simpaticamente, com um sorriso e aquela cara de "te-quero-tão-beeem"! É uma loucura! E quando você já tá lá com o relógio biológico pelas tabelas, vem sempre uma desavisada perguntar: "Você não vai ter filho, não?" Resposta correta: "Porra, não sei, o que você acha?"

Pior é quando essas vozes estridentes do exterior ganham força pelos ecos das nossas próprias cobranças e questionamentos. Ficamos com um sentimento horrível de inadequação, de baixa auto estima, às vezes até de fracasso. Aí, é preciso respirar no desconforto e respirar no desconforto, respirar e esperar passar. Perdoem-me o francês, mas puta que o pariu, que gente é essa??? De onde vêm? Por que querem nos expor assim? Estou convencida que se trata de um tipo de perversidade...

Vou encerrar esse post revoltado contando uma piada que li há tempos (acho que no blog do Bruno Mazzeo - ou foi no Cilada?), era o seguinte: o sujeito era solteiro e tinha umas tias que, em todos os casamentos da família, diziam para ele: "Você, Fulaninho, vai ser o próximo!" Ele resolveu se vingar dizendo a mesma frase para elas, só que em todos os funerais!

A mente que se abre à uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original. (Albert Einstein)

10 comentários:

nós duas disse...

Como sempre maravilha de texto!
De tanto que respiro aqui, tenho medo de ser acusada de contribuir demais pro efeito estufa!

Anônimo disse...

mto bom o texto adriana! sempre passo por isso tb...por conta de casamento, filhos...e agora trabalho!
..eu que sou a filha mais velha fui chamada de caçula porque escolhi uma virada de vida que me trouxe mt desafios, entre eles divorcioe mudança radical de profissão...na boa mandei o relogio biologico "pour la putain" que o criou, e je m´en fou!
Não sustento mais a convivência com pessoas assim, passei a ser antisocial e "grossa" na idéia delas...porque perdi a educação se achar que na hora h não responderia a opção c! e "je ne regrette rien"... da minha vida erudita, quem cuida e ama sou eu!

Maria disse...

Acho que os inconvenientes de plantão cuidam da vida alheia por não darem conta dos próprios problemas. Dri, ótimo texto!
Anônimo, sou sua fã!
Bjs, Meri

bia disse...

Brilhou amiga!!! Concordo com a Meri e com o Aninimo. Eu que sou uma autentica cacula conheco bem esse sentimento de inadequacao. Bjs

JuSaad disse...

Na mosca! Como essas criaturas existem que nem praga, não? Um inseticida "calaboca" seria ideal.

Renata disse...

Amiga... você BRILHOU !!! Tenho muita preguiça deste povo , que é tão entediado com a vida própria que vive a dos outros !
bjocas Re

Renata disse...

que anônimo figura !!!! adorei !

Naná disse...

Dri! AMEI! Estou achando q você vai deixar o nosso brechó pra virar uma maravilhosa cronista! Arrasou mais uma vez, adoro seus txts, mas esse foi óootemo!!!bj GG

Fernanda Arruda disse...

Olá Adriana,
Esta é a primeira vez que comento, mas já estive por aqui antes. Belo texto, é bem por aí mesmo... de onde vem essa gente!!??? rs
Abçs,
Fernanda

Anônimo disse...

Ah Dri amei!!!!! eh exatamente isso.
arrasou no texto, morri de riri e me identifiquei totalmente!!!
beijo grande.
dri tavares