Plutão é Hades na mitologia grega, o senhor dos mortos e do mundo subterrâneo (leia-se senhor do inconsciente), um cara de decisões irrevogáveis, de quem ninguèm (nem Zeus) ousava discordar. Pouco saía do seu reino e, diferente dos demais deuses, que viviam se metendo em várias aventuras amorosas, Hades apaixonou-se uma única vez e abduziu sua amada Perséfone para viver com ele em seu sombrio reinado. Toda mitologia plutoniana está ligada ao processo de morte e renascimento.
Plutão gosta das profundezas, do que é denso e intenso, é um planeta sem olhos para o superficial. Suas transformações são profundas e têm o gosto da irrevocabilidade, de que nunca mais as coisas serão como antes. E não são mesmo. Somos revolvidos por dentro. Quando se fala do senhor da morte, logo pensamos em morte física: na nossa morte ou morte de um ente querido, mas quero ressaltar que, embora as mortes acima não estejam descartadas - nem em trânsitos de Plutão, nem nos de outros planetas - a morte descrita por Plutão é uma morte simbólica. A morte de uma fase, a morte de uma faceta da gente, da morte da inconsciência de determinados aspectos do eu.
O cunho psicológico de um trânsito dessa monta é um maior reconhecimento da nossa essência e de nosso todo para que vivamos mais de acordo com quem somos. Daí termos a impressão de que estamos diante de decisões e escolhas de extrema importância. Na maioria das vezes, a escolha se restringe apenas a simplesmente "fazermos bom grado aquilo que sabemos que temos que fazer", frase do eterno mestre C.G.Jung. Note que a escolha aqui é o estado de ânimo com que encaramos a inevitável batalha.
Trânsitos de Plutão exigem uma viagem aos quartos escuros da alma. Lá, junto com os ratos, medos e aspectos ocultos do eu, estão também nossos maiores tesouros. Não dá pra chegar aos tesouros sem encarar a sujeirada. Gosto da imagem do dragão que guarda o tesouro. O dragão pode ser uma renúncia, uma perda, uma traição, uma rejeição, uma dependêcia, e precisamos enfrentá-lo para poder então fazer o caminho de volta à vida. É sofrido, mas vale a pena. A recompensa é o desabrochar. Crescemos. Nos descobrimos mais fortes do que pensávamos ser, mais íntegros do que éramos e mais alinhados com nosso propósito de vida.
